Olá! Ainda tô me acertando na frequência semanal e acabei pulando a última porque tava focada escrevendo um artigo sobre violência psicológica, ainda reverberando as reflexões da última edição. Pra hoje trago um mini desabafo sobre a rotina que eu quero ter e o que acaba saindo no final. Não é sempre assim, mas tem sido mais que eu gostaria. Não vou dizer que espero que você goste, porque esse é daqueles textos que se estivesse no papel eu provavelmente não resistiria ao impulso de rasgar e jogar fora, mas precisava tirar isso de mim e quem sabe tem algo ali que alguém pode pegar pra si…
Ainda que doa, escrevo, porque não escrever dói bem mais.
Acordo por volta de 5:20, quando a luz invade a janela do meu quarto sem cortinas. Minha bexiga acorda juntinho e não consigo enrolar muito até precisar me levantar. Pouco depois, toca o despertador. Bebo água, tomo remédio, leio um pouco e vou tomar banho. Me arrumo, faço café, esquento um pão. Tomo café e como pão, com o celular na mão, ignorando as restrições que configurei pra não acessar redes nesse horário. Saio atrasada, tento compensar acelerando um pouco na estrada, apertando o passo do estacionamento até o escritório.
Volto no fim da tarde, a lista de tarefas da semana nunca zerada, sempre uma emenda da passada. Muitas roupas por lavar, um chão que nunca fica limpo, coisas da mudança ainda por organizar, obrigações esquecidas por lembrar. Faço planos: “pelo menos uma horinha arrumando a casa”; “pelo menos meia horinha de exercício”; “dez minutinhos de leitura têm que dar”. Não quero ir pro computador começar um segundo turno de trabalho (não remunerado), preciso dar um tempo. Sento no sofá, ligo a TV. Inspiro e expiro fumaça, uma, duas, dez vezes.
O dia começa a cair, ainda me sinto cansada, mas levanto. Recolho as roupas no varal, boto mais na máquina pra bater. Paro pra ver o sol se pôr. Inspiro, expiro.
“Mais uma noite chega e com ela, a depressão”...
Passa das 18, tenho fome de comida e de conforto. Estou sozinha, meu companheiro vai demorar pra chegar hoje, comerei sozinha. Isso significa que posso comer o que quiser, sem julgamento e sem precisar fazer acordos. Só eu e minha fome, de comida e de conforto.
Vejo a geladeira e não tem nada pronto, nada imediato, talvez um biscoito ou um docinho. Faço um pequeno lanche, enquanto rolo o feed do aplicativo de comida como se fosse mais uma rede social, buscando naquela lista interminável de refeições altamente previsíveis, o que vai preencher meu vazio. Minha fome é real, eu preciso comer, o buraco dentro de mim é maior, preciso comer em grande quantidade.
Frutas e vegetais não confortam, pensar em cozinhar me faz querer morrer. Decido que hoje vou de hambúrguer com batata frita, mas precisa ser de algum lugar que venda chocolate, não posso ficar sem sobremesa. Escolho o maior, tem que ter ovo, bacon e bastante queijo. Dois KitKats ou seis batons? Uma escolha muito difícil. Espero que não esqueçam a Coca dessa vez.
Nos 40 a 60 minutos de espera, boto uma série ou vou pro computador. Tento escrever, mas prefiro abrir um jogo ou só ficar lendo coisas aleatórias, afinal, a comida vai chegar a qualquer momento, não dá tempo de me concentrar e fazer algo que preste. Inspiro, expiro.
Lá pelas 20 chamam no portão, os cachorros latem muito, recebo feliz meu pacotinho. Abro tudo no sofá mesmo, com a TV ligada na série que acho que combina com a hora do jantar.
Molho a batata no molho, coloco na boca, depois mais uma e mais outra. Coloco maionese no hambúrguer e dou a primeira mordida, a segunda, a terceira. Mal abaixo os olhos pra ver o que estou fazendo, a atenção na tela colorida. Uma mordida, duas batatas, outra mordida, quatro batatas, até que acabam as batatas. A essa altura sei muito bem que estou mais que satisfeita, mas faltam ainda algumas mordidas. Olho pra comida, olho pra tela. Mais uma mordida, sem desviar o olhar. Sinto a barriga estufar. Mais uma mordida e mais outra. “Muito interessante esse episódio!” Morde, mastiga, engole. Sinto que a comida vai voltar. Não aperto a pausa. Um gole generoso de Coca pra ajudar a descer. Outra mordida, engulo sem mastigar, mais um gole. Já não importa mais o que eu sinto, só preciso ver tudo acabar, o episódio, a comida, minha angústia.
A comida acaba, estou me sentindo mal e preciso me levantar. Ando um pouco pela casa, jogo as embalagens no lixo, sento mais um tempo no computador. Inspiro, expiro. Menos de uma hora depois, tenho sono, vou me deitar. Coloco algo na TV, assisto por 15 minutos, desligo e vou dormir.
Acordo por volta as 5:20 com refluxo. Faço xixi, bebo água, tomo remédio...
Por hoje é só, te vejo na próxima semana. :)
Amiga, já te disse no privado o quanto esse texto conversou comigo, porque me identifico muito mais do que seria possível ou necessário narrar aqui. Então só queria dizer que é muito bom te ler por aqui e observar como processamos as coisas de maneiras tão semelhantes e, ao mesmo tempo, tão próprias. Me vejo em você e nos seus textos, e isso é massa demais. Além de, claro, gostar muito da sua escrita.
Um beijo!