Uma série de autoficção, com trechos dos diários de Mônica, uma brasileira sobrevivendo à pandemia e ao caos que tomou conta do país, desde março de 2020.
Segunda, 22 de novembro de 2021
Pingo colírio nos olhos e tento mantê-los fechados por um minuto para não ceder à vontade de sair esfregando tudo. Tento contar os segundos na minha cabeça, já que estou de olhos fechados. Nesse momento, sabendo que posso contar como quiser e que provavelmente vou acelerar esse minuto, penso em como o tempo estica e encolhe como uma mola maluca dentro da cabeça das ansiosas.
Um minuto que parece uma eternidade, porque tenho que ficar parada de olhos fechados esperando o remédio agir. Lembro das horas incontáveis dos seis minutos que consegui aguentar dentro de uma máquina de ressonância magnética, antes de deixar explodir a crise de pânico que estava crescendo em mim ou como os dias se arrastavam quando minha mãe estava internada com covid e eu ficava pulando de distração em distração, para tentar acelerar as horas e não sentir a enxurrada de pensamentos catastróficos que me inundava.
Por outro lado, como passa rápido aquele prazo que a gente procrastina até não poder mais e fica sempre sentindo que pôde tão pouco. Como voam as horas quando você tá fazendo uma coisa gostosa e os pensamentos ansiosos saem para dar uma volta. E como dois anos confinada dentro de casa, sem produzir os resultados que o capitalismo exige, parecem só alguns dias vividos em repetição.
Quinta, 30 de dezembro de 2021
Acordei, me livrei de algumas pendências emocionais.
Desabafei.
Quem sou eu?
Sigo me perguntando.
Sigo sem resposta.
Estou bem?
Essa é mais difícil ainda.
Estou aqui. Viva. Fato.
O que eu faço com isso?
São outros 500.
Bebo água. Passo creme. Anuvio a cabeça.
Não necessariamente nessa ordem.
Depois da pausa, preciso de outra pausa.
Também preciso planejar o dia.
E fazer coisas que são esperadas.
Talvez desejadas? Algumas.
Definitivamente não todas.
Dez da manhã.
Começo “cedo” e dou conta de mais trabalho ao longo do dia ou deixo pra depois porque ainda sinto que preciso descansar?
Dez e dez.
Meu tempo não é meu.
Só o que resta é roubar alguns minutos do dia pra escrever.
Fazer pausas.
Beber água. Passar creme. Descarregar a cabeça.
Até mais. :)