Estive/estou passando por um período bastante introspectivo, de muita fadiga e humor deprimido. Considero como uma “ressaca” da tempestade que devassou minha vida nos últimos meses, ainda vou te contar isso, tem um rascunho aqui desde janeiro, mas não é hoje. Hoje eu quero falar do que veio depois, do período em que eu me senti tão cansada de tudo que a única vontade que restou era me enfiar debaixo das cobertas e dormir enquanto eu podia, enquanto não precisava representar o papel de pessoa funcional que o capitalismo te exige pra sobreviver. Dias confusos, cinzas e muito reflexivos.
Enquanto tudo acontecia eu estava certa de que não tinha condição de construir nada, só queria passar despercebida pelo mundo e ficar no meu cantinho. Mas assumi obrigações, tinha projetos em andamento, contas pra pagar, aquela coisa toda. Então, eu também tava/tô vivendo um momento em que fugir não consta no cardápio, não é uma opção. E essa tem sido a maior prova de fogo da minha vida adulta: querer paralisar e continuar caminhando, precisar construir quando a vontade é de desabar.
Veio tudo de uma vez. Enquanto passo por desafios gigantescos com questões familiares e de trabalho, estou erguendo a minha casa. Fincando raízes num chão e num teto que são meus, com meu nome no papel e pedacinhos dos meus sonhos do começo ao final. Tá uma bagunça ainda, mas a gente chega lá.
O velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer, mas o processo está em curso.
Estou cada vez mais perto dos 40 e me sinto cada vez mais conectada comigo mesma e próxima da vida que eu quero viver. Não é um caminho curto, tenho me arrastado com bastante dificuldade em boa parte dele, mas está sendo caminhado. Desvios foram feitos, ajustes de rota necessários, desapego de coisas que eu quis muito, mas precisei entender que não eram possíveis, mas eu segui em frente e sinto que estou chegando num lugar que era inimaginável pra Lívia de alguns anos atrás, mas bastante satisfatório pra quem eu sou hoje e ainda quero ser.
No meu imaginário tudo seria muito diferente, bem linear, com margens e destinos claros. Na vida real, um caos, algumas escolhas fiz, outras fui impulsionada a fazer. Tenho orgulho de mim por estar saindo do outro lado de pé, por aos trancos e barrancos estar realizando planos e enfrentando os desafios. Infelizmente (ou não), são processos não instagramáveis, tão avassaladores que não dá muito tempo de tirar foto ou explicar em vídeos de um minuto. Mas muita vida acontece, mesmo nos períodos em que a gente parece não existir na internet e tem sido muito bom entender isso.
Meus momentos de casulo, de ajustar as expectativas e olhar pra dentro vão sempre existir e nem sempre vai sair uma borboleta ali de dentro, mas talvez uma lagarta transformada, mais vivida e, quem sabe… um pouquinho mais sabida.
Além de orçar material de construção e aprender sobre porcelanato e energia solar, escrevi umas coisinhas na minha coluna pro Catarinas, vou deixar alguns links aqui:
Vai Na Fé: o que podemos aprender com a novela sobre sistema penal e sociedade
Doces devassos e mulheres honestas: o papel da imprensa e do judiciário na cultura do estupro
Criminalizar ou não, eis a questão
Por fim, conto que tem jogo novo do projeto transversais no forno e tá muito legal o processo de criação! Fomos contempladas pela Lei Murilo Mendes e conseguimos recursos pra criar uma nova edição do Memórias Transversais com uma lista massa de mulheres brasileiras. Em breve conto (e mostro) mais. *_*
Até ;-)
Coisa linda ver suas construções saírem do chão e do papel! ❤️