d-_-b Playlist do mês, com uma mistureba do que eu mais ouvi em 2021 e vou continuar ouvindo em 2022.
A news de dezembro deu errado antes de ser escrita, pois começava com uma promessa. Mais uma de tantas que fiz em 2021 e não cumpri. Tipo aquela pilha de livros não lidos que você deixa no cantinho e vai, despretensiosamente, jogando um em cima do outro, jurando pra si que vai dar conta, sabe? Não deu, claro que não deu.
Minha última promessa do ano foi passar a virada escrevendo, porque era só isso que queria fazer em 2022. Algo simples, fácil de cumprir. Eu tava em casa, fazendo nada, “era só” sentar aqui perto da meia noite e escrever uns minutinhos. O que poderia dar errado?
Passei o mês inteiro tentando responder a essa pergunta, sem sucesso. Eu não só não virei o ano escrevendo como não produzi qualquer texto coerente desde então. Essa promessa foi aquele livrinho de poesia fininho, edição pocket, que ao ser acrescentado na pilha, fez tudo desmoronar na minha cabeça. Não sei se tô me fazendo entender (como disse, tem sido bem difícil produzir coerência), mas é assim que me senti com a chegada de 2022.
Como a péssima pagadora de promessas que sou, também não sou muito fã de fazer resoluções de ano novo, porque durante muito tempo essa foi uma forma certa e rotineira de me decepcionar. Portanto, eu não pretendia listar resoluções, mas tinha alguns desejos fortes, incisivos, que quase dava pra chamar de meta. Porém, antes que pudesse colocá-los no papel, me encontrei num começo de ano atípico, sem aquela curta, mas tão esperada motivação das primeiras semanas de janeiro. Estamos no último dia e por aqui é só cansaço… o mesmo de 2020 e 2021.
Já retrospectivas eu amo, mais que resoluções. Por alguma razão, gosto mais de olhar pra trás e tentar aprender que olhar pra frente e tentar realizar… enfim, retrospectiva seria o tema da newsletter de dezembro. Comecei muito animada, pensando que seria bom fazer aquela revisão de todos os anos, mas quando o fim se aproximou de fato, olho pra trás, vejo muita tristeza e exaustão, olho pra frente e me parece que vem mais por aí.
Então percebi que essa retrospectiva não seria feliz, não tinha como ser. Seria dúbia, como quase tudo na vida e, possivelmente eu encontraria mais dor que alegria na revisão. E é exatamente assim que está acontecendo, porque a verdade é que eu não terminei e não sei dizer quando vou conseguir terminar. Já a newsletter, essa vai hoje, porque não é promessa de ano novo, é compromisso [disse ela algumas horas antes de deixar pro dia seguinte].
O ano que passou me mostrou o quanto eu sou frágil, como coisas cotidianas me abalam profundamente e como também existe uma colcha de retalhos de feridas que vão abrindo, fechando, sendo costuradas e desprendidas do todo ao longo do tempo que passa. O mesmo ano também me mostrou o quanto sou forte. Depois de passar a maior parte dos dias pensando que ia morrer, tendo certeza que não ia aguentar, muitas horas abatida no sofá e na cama, rolando o feed compulsivamente buscando uma faísca de esperança e só encontrando decepção, eu estou de pé. Viva, vacinada (três doses bem lindas), medicada, trabalhando e fazendo planos para o futuro, mesmo que parcos, atrasados e sem muitas expectativas, os planos existem, assim como a crença de que algo melhor ainda pode vir.
Pra balancear um pouco e não só dividir o peso que tenho carregado com vocês, pensei em fugir do “formato tradicional” das primeiras edições e trazer duas listas (quase todo mundo gosta de listas né, eu acho) de coisas que quero deixar em 2021 e quero trazer pra 2022. Vamos ver no que dá?
3 coisas pra deixar em 2021
Doomscrolling. Em suma, doomscrolling é ficar na internet procurando notícia ruim. É compulsivo e muito muito muito prejudicial. Desde março de 2020 estou nesse ciclo e foram raros os dias que consegui controlar melhor minha exposição a notícias que me deixavam mal. Nos picos (ou fundos) da depressão, eu cheguei a passar dias inteiros assim. E a forma como isso me fez sentir é algo que, definitivamente, quero deixar em 2021 e tô trabalhando ativamente pra que isso aconteça.
Muitos dos meus arrependimentos. Se eu soubesse que passaria dois anos trancada em casa pensando em como a vida é efêmera, teria evitado muito sofrimento pelo “tempo perdido” que eu passei vivendo e sendo eu fora daqui (aqui, no caso, a internet, minha atual residência).
A busca de validação pelo olhar de outrem. Fácil né? Fácil a gente achar que não liga pro que os outros pensam, fácil também dizer que não liga, mas fazer, de fato, ah, migue… já é outra história. E em 2021 eu pensei muito nisso, enquanto via meu engajamento no instagram cair, por circunstâncias alheias à minha vontade e também por muitas das escolhas que eu fiz (que não considero erradas), encarei fantasmas que achei ter deixado no armário há tempos. Esse ano tive muita dificuldade de me expressar e duvidei de mim em muitos momentos porque não conseguia manter o interesse das pessoas como antes. Sim, isso é uma confissão, “sórdida”, que eu não queria fazer nem pra mim, mas esse monstro voltou a habitar minha cabeça e a única forma que sei de expurgá-lo é colocando pra fora. Então tá aí… apesar de sempre tentar valorizar minha história e minhas vitórias, em 2021 eu me coloquei muito pra baixo, me senti burra, pouco estudada e pouco resiliente em muitos momentos, baseada no que eu achava que as pessoas poderiam estar pensando de mim. São sentimentos confusos e persistentes que carreguei durante a vida toda, mas quero muito deixar pra trás e me comprometo a seguir tentando.
5 coisas pra levar (trazer) pra 2022
Música, dança, poesia, ilustração, dramaturgia e toda forma de arte possível. Em 2021 eu me reconectei com meu lado “artista”, assim como com artistas que tinha deixado de lado. Voltei a ler Pessoa, Neruda e Espanca, tenho voltado a ouvir álbuns inteiros do começo ao fim e mergulhei mais que nunca em cultura pop pra me refugiar e pra pensar a vida real. A arte e suas diversas expressões têm sido abrigo e fonte de motivação constante. Quero mais em 2022 e sempre. Quanto mais melhor, pra fazer, consumir, provar, vivenciar, enfim… é sobre isso (meme que eu já trouxe pra 2022 pois ótima finalização pra sentenças).
Estudar em grupo. No segundo semestre consegui voltar a fazer alguns cursos de escrita e comecei a participar de clubes de leitura conjunta. Tenho curtido muito a experiência de estar “em aula” de novo e de ler livros junto com outras pessoas, compartilhar reflexões e sentimentos. Em 2022, por enquanto, estou no clube de leitura do Nós Seguras e no Fundamentes Ciclo, tô amando.
Escrever pra mim. Complementando o que eu disse ali em cima, passei boa parte da vida calculando meu valor com base nas opiniões alheias e não é sempre assim, mas ainda acontece. Com o Instagram aconteceu. Foram três anos na dinâmica de compartilhar conteúdo e fazer trocas e, infelizmente, a validação que eu recebia passou a fazer parte da minha vida, a ser algo “esperado”… aí tudo desmoronou e ficou no lugar a sensação insistente de que estava perdendo a “plateia”, que o que eu dizia tinha parado de fazer sentido. Foi nesse momento que me recolhi mais e voltei a escrever só pra mim, costume que tinha quando era criança/adolescente e que fui perdendo ao ser engolida pela lógica utilitarista que o capitalismo (e os boletos) dá pra nossa vida. Parei de escrever pra mim, comecei a escrever pra outres. Agora parei de escrever pra outres e voltei a escrever pra mim. Tem sido difícil demais achar um equilíbrio nessa balança, porque toda vez que vou escrever algo “pra fora”, meu senso crítico liga sirenes altíssimas no cérebro e me impedem de dar seguimento, mas escrever “pra dentro” funciona também pra trocar ideia com esse mesmo senso crítico tão severo e ir negociando um arranjo sustentável pra nós. E essa é a meta.
Memórias Transversais. Esse é um projeto que sinto que chegou na minha vida pra ficar, que mudou o rumo de como eu faço as coisas e de como vejo o futuro. Por isso quero levá-lo não só pra 2022, mas pra vida toda e nesse momento isso será prioridade. Acredito muito no que eu e Aline construímos e estamos construindo e quero muito desbravar os novos caminhos que esses planos nos apresentaram. Então já sabe, se achar que eu tô sumida do @liv.re_, dá um pulinho no @transversais.joga porque a programação desse ano promete :D.
Transparência e ousadia. Pra botar a cara no mundo, com dores, amores, contradições e vulnerabilidades. Em 2021 eu escrevi no diário que dizer a verdade é um ato de rebeldia e que enquanto eu estiver viva e tiver minhas palavras eu vou ficar bem. E é só o que eu quero, ficar bem, ser sincera, não silenciar, não me esconder. Ser (ou pelo menos tentar ser) livre, ser Lívia.
5+1. Pandemônica. Na intenção de contar um pouco do que vi na minha retrospectiva e colocar em prática esse último desejo de ser mais “ousada” em 2022, eu criei uma série de autoficção, com base nos meus diários e nos acontecimentos da pandemia, entre de março de 2020 e os dias atuais. A série tá no medium e o primeiro capítulo foi publicado no dia em que essa newsletter deveria ter ido ao ar :D. Pros seguintes eu pretendo manter uma frequência quinzenal, ou, quem sabe, semanal. Como a cartinha segue sendo mensal, mando aqui ao fim do mês o que já tiver publicado ou você pode me seguir no medium e no instagram pra atualização em tempo real e outros comentários sobre sistema penal, o mundo e a vida ^^.
Fico por aqui porque pra quem não tinha nada pra falar, acabei falando demais… uma característica que trago comigo faz tempo e em 2022 não vai ser diferente. Espero que seu começo tenha sido melhor que o meu e que a gente tenha força pra enfrentar um 2022 cheio de acontecimentos importantes e, provavelmente, muito caos, do jeitinho que a gente gosta (não).
Até mais!
Sinta-se à vontade para responder e trocar ideia por aqui também, puxa a cadeira e me conta o que achou da experiência. Eu, particularmente, tô amando <3. Nos vemos no próximo mês. Até.
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Amada, eu AMEI! Que privilegio que foi te conhecer nesse 2021, me identifiquei tanto com o que você diz, que me deu até vontade de escrever também, tamanha é a reverberação (positiva, que fique claro). Sei que a ideia é ligar menos para a opinião alheia, e acho que você não precisa de aprovação de ninguém pra continuar, mas fique aqui com meu abraço e meu carinho e minha empolgação ❤️❤️❤️
Ai, migs! Seu sentir é único, mas eu te entendo um tanto... E te admiro ainda mais!
Continue sentindo, escrevendo, sonhando, vivendo... Ler isso tudo foi tomar um banho de humanidade e sim, de inspiração pra quem quer e precisa de planos depois desse teste de resiliência que foram esses anos - como eu.
Quando eu crescer eu vou aprender transformar limão em caipirinha assim também! ❤️