#02 - Memórias Transversais e outras coisinhas
Olá! Bem-vinde à minha colcha de retalhos. Costurei essa cartinha para te enviar no último dia de cada mês (na medida do possível), com recortes do que vi, li, experimentei e refleti. Se gostar (e se não gostar também), me manda um recadinho para eu saber o que reforçar e como melhorar :).
Começo com a sugestão de playlist desse mês, que confesso ainda não saber definir, porque tô terminando de montar nesse momento. São as músicas que ouvi mais e que me fizeram pensar. Para ouvir enquanto lê, antes, depois, ou não…
No lugarzinho onde guardo pensamentos e referências para a newsletter do mês, um bilhetinho da Lívia do passado para a Lívia de hoje: “Escrevi um texto à mão no caderno. Dia 22 de novembro. Fotografar e mandar como cartinha”. Já não faço mais ideia do que tem nesse texto, sequer me lembro o assunto, mas bora lá…
Um mês inteiro sem escrever aqui. E, mais uma coincidência, venho de novo anotar tópicos pra tentar gravar um vídeo.
Muito aconteceu e, do contrário que possa parecer pelas páginas em branco, estou escrevendo, criando e produzindo, bastante. Acredito que o sumiço tenha duas razões principais:
Estou me adaptando com a escrita digital, tentando criar menos obstáculos e escrever como der, onde der. Como o celular tá sempre à mão (muito mais do que eu gostaria), a caneta e o papel perderam o pódio dos meus pensamentos, pelo menos por enquanto. A vida é cíclica.
No caderno eu gosto mais de escrever sobre o que me dói, tem uma coisa no concretizar a dor com palavras no papel que não consigo sentir muito no digital. Mas ultimamente, felizmente, não tem doído tanto. Eu tenho sonhos, projetos e paciência. Estou transformando meu amor em ação. No meu tempo, do meu jeito.
É um momento de muito trabalho e há expectativa de uma boa colheita à frente. Mas ainda não chegamos lá. Sigo trabalhando e sonhando e criando, como eu sempre quis, a vida toda. Às vezes ainda tenho dificuldade de acreditar que essa é minha rotina atualmente…
Mas sei que é real. Porque sei que as dores também são reais e foi na tempestade que plantei as sementes que me trouxeram até aqui. Foi esse cultivo que me fez sobreviver. E me permitirá, amanhã, quem sabe, colher, alimentar, replantar e recomeçar.
Memórias Transversais
A razão do meu mês ter sido tão criativo e produtivo tem nome e instagram: @transversais.joga. No começo de novembro, eu e minha querida amiga Aline colocamos no mundo uma ideia que viemos trabalhando pelos últimos dois anos. Ideia que surgiu do nosso desejo de facilitar diálogos sobre pautas de gênero, sexualidade, direitos humanos e outras, tão caras para nós e tão inacessíveis para a maioria das pessoas. Dessa vontade criamos o Memórias Transversais, um jogo da memória homenageando 15 mulheres marcantes e que serve de ferramenta para conversarmos sobre a vida dessas mulheres e os assuntos que as atravessam e nos atravessam também.
O jogo está em fase de produção e, enquanto isso, estamos apresentando o projeto no instagram, revelando aos pouquinhos a lista de homenageadas e convidando você para jogar, aprender e trocar com a gente, no feed e nos stories.
Eu tenho amado demais trabalhar nesse projeto, por todas as razões que contei acima e porque sinto que estou realizando um sonho, que eu nem sabia que existia.
Tem também o fato de poder contar com parcerias incríveis, não só da minha amiga Aline, mas da Priscila Pinheiro, que ajudou a transformar nossas intenções num modelo de negócio com a nossa cara e nossos valores e da Mariana Leal, que tá brilhando demais na criação das ilustrações.
Convido você a conferir e peço que me conte se gostou e no que podemos melhorar. A ideia é mostrar e viver o processo com quem quiser embarcar nessa com a gente. Vamo lá? :D
Nem 5 minutos guardados
Nessa seção, divido leituras não muito longas que valem o compartilhamento.
Stalkers usam internet para aterrorizar e dominar mulheres - Matéria e documentário da Folha, que contam histórias de mulheres que foram perseguidas por homens na internet e sobre a criminalização dessa conduta. Interessante pra gente entender as diversas dimensões da violência contra a mulher e pensar em soluções pra que isso deixe de ocorrer.
A quem interessa matar o Coronel Siqueira? - sobre a última polêmica do twitter, para pensar no momento surreal que estamos vivendo e sobre como a cultura de “caçar like” tá acabando com o jornalismo (também).
Um teste (em inglês) pra descobrir qual o seu tipo criativo - Não é exatamente uma leitura, mas adorei esse teste! Ele descreve seu tipo criativo e ainda te conta qual tipo combina com o seu. O meu é o “The Dreamer”. Será que a gente combina? ;)
O que grandes autores da literatura escreviam em seus diários? 👀 - também não é leitura e tem mais de 5 minutos, mas é sobre diários e eu amo diários. Recomendo pra quem gosta também ^^.
Você pode substituir a criminalização por…
Deixo aqui um link, um post, uma provocação ou qualquer coisa que possa nos fazer pensar em soluções de segurança fora da caixa do Direito Penal. Que tal?
Pergunto: pra quais condutas hoje previstas como crime poderíamos substituir a pena privativa de liberdade por indenizações direcionadas à vítima e/ou seus familiares? Já pensou sobre isso? Me conta?
Pra deitar no sofá e esquecer da vida
Coisas que vi na TV esse mês e recomendo.
Tô num momento em que tô revendo muita coisa, portanto, minhas recomendações estão meio nostálgicas:
Girls (HBO) - esse mês revi as seis temporadas de Girls e foi bem interessante. Quando assisti da primeira vez as personagens me irritavam demais, especialmente a Hannah. Hoje percebo que isso pode ter acontecido porque em Girls as protagonistas, apesar de todas brancas e com vidas inevitavelmente idealizadas, são chatas boa parte do tempo e fazem muita bobagem (como garotas de 20 e poucos anos deveriam ser) e eu gostava mesmo era de ver pessoas perfeitas na tela e imaginar quando eu “chegaria lá”. Atualmente isso mudou, ainda bem.
Além de Girls, trago alguns dos filmes que eu amo odiar, tema das minhas escolhas de entretenimento ultimamente:
Moulin Rouge - vejo, revejo e continuo amando mesmo sabendo que há problematizações a fazer;
O diabo veste Prada - esse filme é realmente péssimo haha, mas fiquei pensando enquanto assistia… todo mundo fala mal do namorado chato da Andy, mas repararam como o “amigão” Nigel é o homem que, o tempo todo, fica dizendo pra ela como ela deve ser e quais roupas e qual manequim ela deve vestir? Na minha concepção, Nigel representa mais o papel das revistas femininas que a própria Miranda.
Em seu lugar - protagonistas brancas e magras, com uma delas vestindo menos de 42 e retratada como gorda (assim como a Andy), mas fica fofinho quando a avó reaparece <3.
Joy - que vida difícil teve a Joy e que família… é uma história de “superação”, de “american dream” (com mais uma mulher branca, magra e padrão), mas que deixa bem nítido como, mesmo que consiga realizar seus sonhos, a carga de cuidado de uma família pode acabar ficando toda nas costas da mulher e como esses obstáculos são muitas vezes impossíveis de transpor.
Vanilla Sky e Jerry Maguire - aos 20 e poucos anos eu era obcecada pelos filmes do Cameron Crowe. Hoje vejo que os filmes que eu gostava são sobre mais ou menos a mesma coisa: um protagonista homem, branco e com pinta de bonzinho, vivendo uma grande aventura, amado e apoiado por mulheres de mesmo biotipo e personalidade semelhante, que nutrem, inspiram, incentivam e propulsionam o sonho do protagonista e aceitam docemente a migalha que ele quiser dar, afinal, não são histórias de amor, são jornadas do herói. Jerry Maguire é disparado o pior deles.
Tudo Acontece em Elizabethtown também é do Cameron Crowe e continua sendo um dos meus filmes preferidos na vida porque sou simplesmente apaixonada pela Claire Colburn, da Kirsten Dunst, mas é triste constatar que o enredo não foge desse padrão (o mesmo vale pra Quase Famosos e minha amada Penny Lane).
Adendo: Esse mês a animação Uma história de amor e fúria entrou no catálogo da Netflix. Recomendo demais, sem ressalvas.
Destaques de novembro no @liv.re_
Novembro foi todo sobre a @transversais.joga. Tô mergulhada de cabeça nesse projeto e quem estiver por aí, vai me ouvir falar bastante disso por agora. Daqui a pouco os pratinhos se equilibram novamente, faz parte. :)
Por hoje é só! Cartinha um pouco atrasada pra não perder o costume (“na medida do possível” é isso), mas tá aí.
Sinta-se à vontade para responder e trocar ideia por aqui também, puxa a cadeira e me conta o que achou da experiência. Eu, particularmente, tô amando <3. Nos vemos no próximo mês. Até.
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