Olá! Hoje trago pra você um dia na vida banal da Beatriz, mais um pouquinho da experimentação que venho fazendo com histórias de ficção que se parecem com a realidade. Espero que goste :)
Enquanto o sol brilha lá fora, Beatriz está deitada no sofá da sala com o celular na mão. Vai deslizando o dedo para baixo, passando pelos infinitos posts nas redes sociais, a televisão em segundo plano reproduz um programa qualquer. O som da Alexa ecoa na sala, anunciando as altas temperaturas do dia, como se o suor excretado por todos os poros da sua pele já não tivessem lhe deixado muito bem informada. Beatriz suspira, sentindo-se exausta, sem disposição para mais nada além de acompanhar vidas virtuais de perfeição.
O ambiente ao seu redor é um tanto empoeirado, mas confortável. A cozinha é um caos, com louças sujas espalhadas e potes amontoados na pia. Algumas roupas estão espalhadas no chão, lembrando-a da tarefa interminável de lavar e guardar. Mas o calor a impede de se mover, e assim ela permanece inerte, em meio a sua própria desordem. O calor beira o insuportável, mas Beatriz não consegue ir à praia, assim como não consegue fazer mais nada além de trabalhar, ver série e fumar um cigarro atrás do outro. Tudo parece uma sequência infinita de dias sem graça, sem cor, sem sentido. Beatriz fecha os olhos e larga o celular de lado por alguns instantes, deixando-se afogar no seu próprio mar de desânimo.
A máquina de escrever vermelha na mesa de centro e a pequena estante de livros indicam um apreço pelo passado. Mas para Beatriz, esses objetos são apenas lembranças de um tempo em que ela se sentia mais viva e inspirada. Agora, eles parecem deslocados em sua vida monótona e sem graça. Beatriz se sente aprisionada em sua própria rotina, como se condenada a vagar por um labirinto sem saída. Para não mais pensar, pega de volta o celular.
De repente, um post em particular chama sua atenção: uma publicação sobre um concurso literário. O tema do concurso é "A liberdade de ser quem você é". Beatriz sente um impulso inesperado, uma vontade de participar e de expressar sua voz.
Senta no sofá, com o celular ainda em mãos, e começa a imaginar a história que poderia escrever. Pensa em sua própria vida, em como se sente presa em uma rotina de obrigações e fingimento. E se pudesse escrever sobre a luta pela liberdade de ser quem ela realmente é? Seria essa a chance de mudar sua vida?
Beatriz deixa o celular de lado e se dirige à sua estante. Pega um caderno em branco e começa a rabiscar ideias para sua história, mas não gosta de nada que escreve. Passa horas batendo cabeça, mas não consegue calar sua crítica interior, que não deixa que nada criado por ela seja bom o suficiente. Frustrada, fecha o caderno e joga de lado.
Decide levantar do sofá e caminha até a porta da sala, se vê no espelho percebendo que seus olhos estão cansados e sem brilho. Suspira e decide que precisa de um pouco de ar fresco. Sai de casa, caminhando pelas ruas da cidade sem rumo, com a mente em branco. Ela sente o vento no rosto e observa as pessoas ao seu redor, tentando encontrar inspiração em algum lugar. Mas a cidade de céu azul parece cinza e sem vida, sem nada que possa alimentar sua criatividade.
Caminha por um tempo até chegar a uma pequena praça, onde encontra um banco vazio. Senta e fecha os olhos, respirando fundo. Percebe o som das folhas das árvores ao seu redor e começa a relaxar. Inesperadamente, uma brisa mais forte sopra e um pequeno pedaço de papel voa até seus pés. Beatriz se curva para pegar o papel e o desdobra curiosa. Seria um sinal do universo?
Era um bilhete, escrito à mão: "Oi, gostosa! Que cara triste é essa? Me adiciona no zap que resolvo seu problema! Sérgio XXXXX-XXXX".
Ela fica incomodada com a mensagem e sente um misto de indignação e tristeza. Se pergunta por que ainda há homens que acham que esse tipo de abordagem é aceitável. Olha em volta, tentando encontrar o responsável, mas não vê ninguém. Então levanta do banco e joga o papel no lixo, um pouco abalada pela situação.
Começa a caminhar novamente, agora com a mente presa nesse incidente desagradável. Se sentindo vulnerável e exposta, volta pra casa mais triste e mais desanimada.
Ao chegar, Beatriz se joga no sofá e suspira, pensando no bilhete. Sente que a cada dia que passa, a luta para poder ser quem ela é se torna mais difícil. Fecha os olhos e tenta se concentrar em suas emoções, querendo entender o que a levou a sentir dessa maneira.
Ao ouvir seu coração, começa a perceber que a frustração e a tristeza que está sentindo não são apenas sobre a mensagem do tal Sérgio, mas sobre todo o peso que sente em relação à sua identidade e seu desejo incessante de ser respeitada e aceita. Está cansada de ter que explicar e justificar sua identidade, de ter que lutar por direitos básicos que outras pessoas parecem ter de forma natural.
Enquanto reflete sobre tudo isso, percebe que precisa de uma pausa, de um tempo para cuidar de si mesma e recarregar suas energias. Então decide que amanhã vai tirar um dia de folga e fazer tudo diferente, sem trabalho, sem preocupações, sem dor. Apenas um dia para si, para fazer o que lhe dá prazer e para se reconectar consigo mesma.
Finalmente levanta do sofá, toma um banho quente e se prepara para dormir, sabendo que amanhã será um dia importante para sua saúde mental e emocional.
Ao amanhecer, vê o céu azul lá fora pela fresta da cortina, pega o celular e começa a deslizar o dedo pra baixo…
Por hoje é só. Até mais :)