#48 oi sumida
tempo, tempo, mano velho, falta um tanto ainda eu sei, pra você correr macio...
Acordo no sábado pensando que preciso diminuir o consumo de informação sobre política pelo menos por um dia. Na verdade, minto. Acordei às 6:30, peguei o celular e fui me atualizando das notícias e comentários sobre os mesmos assuntos, que perdi enquanto estava dormindo. Meu companheiro acordou um pouco depois e meu bom dia foi anunciando que Xandão e outros ministros do STF tiveram os vistos estadunidenses revogados. Disparo a falar por uns 40 minutos, repetindo e refletindo as coisas que lia na internet. Até o momento em que ele me pede pra parar. Me lembrou que é manhã de sábado e disse que não queria começar o fim de semana nessa energia de fim do mundo.
Fiz o que ele pediu. Enquanto seguia lendo posts e debatendo comigo mesma, fiquei pensando que pra mim também era demais. Estou há dias no loop das timelines, ouvindo notícias da TV e comentando com todo mundo que conheço sobre essa crise internacional absurda pela qual estamos passando no momento. Nem eu me aguento mais.
Dei um tempo, vi novela, recebi massagem pra aliviar a imensa dor nas costas com a qual acordei. Tomei café, dei comida pros cachorros. Comecei a pensar sobre o que vou fazer com o dia de hoje, que não quero que se resuma a acompanhar cada movimento dessa partida de xadrez entre um Presidente da República e um pombo laranja de peruca. Decido trocar de tela. Sento no computador, direto pro docs, nada de redes. E aqui estamos.
Passei dois meses sem escrever newsletter pra conseguir escrever outras coisas e me parece que quanto mais tempo a gente passa longe, mais confuso é o caminho de volta. Sem saber muito bem pra onde ir, venho contar banalidades e seguir o rumo que elas tomarem.
Talvez você que me lê não saiba ainda, mas eu sou formada em direito e especialista em ciências penais. Meu trabalho formal é não relacionado, mas desde a formatura na faculdade, em 2008, passei um bom tempo estudando pra concurso e, de uns sete anos pra cá, tenho focado meus estudos em direito e processo penal, com perspectiva de gênero. Como parte disso, mantenho um perfil no instagram (que já foi bem mais ativo) e escrevo uma coluna mensal sobre esses temas. Também toco o Projeto Transversais com minha grande amiga Aline, uma maneira que encontramos de contar histórias de mulheres importantes e criar formas de diálogo sobre pautas transversais que atravessam a vida de todas nós.
Eu não digo muito isso “em voz alta”, mas meu sonho é conseguir viver dos meus trabalhos que hoje são secundários: a escrita e a educação feminista. Hoje tenho uma rotina flexível que me permite trabalhar em outra coisa e viver tudo isso, mas não me permite viver disso. Entende? Há sempre a necessidade de fazer essas coisas caberem nos espaços vagos da vida, nas brechas que sobram dentre tantos afazeres e obrigações com o trabalho que paga, a casa, a família, a saúde que nunca tá lá essas coisas, enfim… Tudo isso vem primeiro, porque precisa vir, não é uma escolha.
Por isso, os pratinhos que caem mais são sempre os dessa área da vida. O trabalho que me faz mais feliz só pode dispor de pequenas fatias de um tempo já tomado por tudo que é compulsório. Então, hoje eu fiz uma escolha. É manhã de sábado, as obrigações estão relativamente em dia e tenho uma janela generosa de tempo pra gastar. Em vez de manter a “energia de fim do mundo” lá em cima, decido trocar de tela. Sento no computador, direto pro docs.
O artigo que tirou meu sono e não me deixou escrever qualquer outra coisa nos últimos dois meses está no Portal Catarinas e fala sobre deepfakes e o uso de ferramentas de inteligência artificial para a prática de misoginia e crimes sexuais contra mulheres e meninas. Foi um texto bem difícil de escrever porque a situação atual é desesperadora, mas há saídas possíveis e a decisão recente do STF sobre a responsabilização das plataformas é um bom começo.
Fico por aqui e espero voltar em breve.
Até mais :-)