#04 Menos Carnaval e uma mulher que "pra comemorar" trabalhou até a exaustão no mês de março
Sou prolixa até nos títulos.
Mas, de alguma forma, me encontro constantemente sem nada a dizer. Principalmente nos momentos em que mais preciso.
d-_-b Se quiser uma trilha sonora, tá na mão.
A cartinha desse mês começou chamando “Menos Carnaval”, porque sairia no começo de março, depois do Carnaval, que foi uma coisa muito esquisita esse ano, bem menos que mais, bem diferente do que a gente esperava pra 2022 no começo da pandemia. E aí eu lembrei dessa música, que eu amava ouvir na adolescência e no tanto que eu conseguia me ver naquelas palavras, mesmo aos 13 anos, tendo vivido nada. Era como o Carnaval desse ano, mais idealização e fingimento que realidade.
Por que será que estou sempre dando festas pra você dentro de mim?
É sempre assim
Eu enfeito a minha casa com as flores que roubei do seu jardim
São os erros do desejo
Você está em tudo que eu vejo
E agora tudo parece menos real
Menos carnaval
Pois bem, no comecinho de março eu escreveria a cartinha, falando sobre coisas que já nem lembro mais e mandaria pra você. Mas, nesse “mês da mulher” eu trabalhei como há muito tempo não fazia e gastei toda a energia que tinha e todas as palavras da minha cabeça elaborando uma programação de conteúdo bacana pra Transversais.
Março é sem dúvida um mês importante pras feministas e pra todas as mulheres. Não porque insistem em nos oferecer presentes, flores, feminismo de mercado e discursos sobre nossa vitoriosa autonomia para escolhermos a cor dos nossos esmaltes, mas porque é um mês que, por motivos capitalistas ou não, lembram que a gente existe. Lembram da nossa luta, das nossas conquistas e acaba sendo uma boa oportunidade pra lembrar também das nossas demandas, da nossa dignidade, da nossa humanidade. Como, infelizmente, isso é uma exclusividade desse mês específico, precisamos trabalhar feito loucas pra levantar o máximo de discussões e reflexões nesse período.
Esse ano escolhi fazer isso na Transversais, porque eu e Aline acreditamos que seria o melhor momento pra mostrar a que viemos, o que queremos fazer e o que podemos oferecer. Foi um mês de produção intensa, em que eu fui empurrada pra fora da famosa “zona de conforto” (sinceramente gosto muito da minha) e precisei me virar pra estudar e escrever mesmo sem inspiração, sem vontade e sem ter ideia de como alimentar o cursor que piscava faminto na página em branco. E achei que foi muito bom.
Quem me conhece sabe (he) que vivo pra desconstruir todo esse blábláblá de “trabalhe enquanto eles dormem” e de como sua felicidade só depende de você. Como disse, gosto muito da minha zona de conforto e acho que boa parte da vida vou querer passar nela mesmo. Torço demais pra que eu possa, porque com o mundo acabando, pode ser que eu me veja fazendo coisas que nem imaginava mais cedo que espero, mas enfim… Morar na zona de conforto é joia, mas sair dela de vez em quando pode ser bem interessante também. Interessante e cansativo, mas, ainda assim, mais o primeiro que o segundo.
Apesar do Instagram (nossa única casa no momento) não ter ajudado nem um pouco na entrega, eu fiquei muito satisfeita e orgulhosa do que conseguimos criar no último mês. Mergulhei de cabeça na vida das mulheres que apresentamos, compartilhei pensamentos com elas e sobre elas, aprendi um tantão de coisa e acredito que consegui ensinar um pouquinho também. Tá tudo lá caso você não acredite em mim e queira conferir XD
Tudo isso pra dizer que não sou nada boa com prazos (mas a essa altura você já sabe disso), ou com planos… mas tô praticando dar essa espiadinha lá fora vez ou outra e tentar devagarinho voltar pra roda gigante da vida, que em alguns momentos me revira o estômago, mas em outros apresenta uma vista maravilhosa. Já tô divagando, percebeu né? Então vou parar por aqui, porque ainda tenho umas coisinhas que juntei ao longo desses dois meses pra te mostrar.
Agradeço a companhia e te vejo de novo em breve(?)
Nem 5 minutos guardados
Nessa seção, divido leituras não muito longas que valem o compartilhamento.
Esse artigo da Eva Uviedo sobre o clipe do Residente, “This is not America” tá interessantíssimo. É um vídeo necessário e cheio de referências muito importantes. Vale a pena assistir e ler.
Tô velha demais pra isso ou está tudo sendo adolescentizado? Reflexão muito boa da Hariana Meinke sobre adequação e pertencimento no momento atual.
Com 30 e poucos a gente agora tenta driblar o sentimento de não pertencimento e a infantilização inevitável se a gente topar tudo que é tendência. A comunicação nunca foi tão democrática como na era das redes sociais, mas intencionalmente todo mundo parece só querer falar uma mesma língua. Dezenas de posts que são apenas variação de uma mesma coisa em busca de cair nas graças do algoritmo e o preço é o sentimento de exclusão, não pertencimento e descaso com todo mundo que já passou da era teen e sente que o que resta é fazer crochê e ver novela. Mas não vamos, combinado?
d^.^b Mais coisinhas pra ouvir
Podcasts: Tô ouvindo bastante o Conversas Paralelas, do Ivan Mizanzuk. Acho a proposta do podcast massa e os episódios não são muito longos, o que ajuda a ficar em dia. Dos que consegui ouvir até hoje, o com a Marília Moschkovich é disparado o mais legal. Ela dá uma super aula sobre não-monogamia, com clima de papo de bar. Bom demais.
Crime e Castigo da Rádio Novelo, sobre crimes hediondos, justiça e vingança - esse eu ainda não ouvi, mas tenho certeza que vai ser muito bom, porque é da Branca Vianna e a galera que fez o impecável Praia dos Ossos. Ansiosíssima.
E se você gosta de audiolivros, a Boitempo disponibilizou gratuitamente os excelentes “Feminismo para os 99%” e “Mulheres e a caça às bruxas”. Ainda não ouvi, mas já li e recomendo demais.
Meu querido diário
Tá fazendo um ano que comecei um diário no Notion, como uma tentativa de facilitar a escrita, usando um aplicativo que posso carregar pra todo lado. E tem funcionado muito bem! Pra comemorar, quero dividir um pouquinho da experiência por aqui:
5 de abril de 2021 - Escrever todos os dias
Tentando entender esse aplicativo e, mais uma vez, tentando organizar minha escrita. As páginas matinais têm funcionado relativamente bem, mas há dias em que tenho preguiça, ou simplesmente me esqueço de fazer. Ainda assim, penso que é melhor priorizar a escrita à mão, pra ter a oportunidade de organizar meus pensamentos com um pouco mais de calma. Porém, não posso negar que sinto muita vontade e às vezes necessidade, de colocar o pé no acelerador e deixar meus pensamentos correrem da minha cabeça pras minhas mãos na velocidade dos ventos mais barulhentos. Eu penso muito, penso em muita coisa, porque passo muito tempo sozinha, conversando apenas com os meus pensamentos. E preciso admitir que, apesar de não parecer, sou bastante conversadeira. (…)
Histórias pra sonhar e também histórias pra acordar. É isso que eu queria. E é isso que quero começar aqui. Tentar soltar essas histórias, ou fragmentos delas que pairam pela minha cabeça da forma mais inesperada e desorganizada possível. Preciso de uma mesa grande o suficiente pra despejar as peças desse quebra-cabeças.
Por isso e tudo mais que ainda não sou capaz de expressar, resolvi criar esse espaço. E tentar fazer dar certo, pela milésima vez sim, mas quem sabe mil é meu número da sorte.
Então é isso. Até.
Se quiser, fala comigo por aqui: